17 de abr. de 2012
“Era apaixonada por contos, mas não os sabia criar muito bem. Punha umas frases lá, outras cá, mas nenhuma se encaixava. E quando se encaixava, as detestava. Escrevia, escrevia, escrevia. Mas eles nunca ficavam encantadores como tantos outros por aí. Ela achava-os murchos, sem o mínimo vigor. Mas ela não sabia como terminá-los. Jamais soube! Afinal, há regras para como deve-se pôr fim? Nunca achava que era a hora de dar fim ao conto. Aos seus olhos, sempre ficavam incompletos, sem nexo, sem fim, sem promessas. Gostava de escrevê-los fora da felicidade. Mais por necessidade. Fazia com que as palavras saíssem dos lápis gastos com mais facilidade. Mas, na maioria das vezes, não como ela gostaria. Na maioria das vezes, saiam sem compaixão, sem perdão, sem ternura. Escrevia nas calçadas imundas, nas ruas manchadas, nos palcos cobertos. Escrevia, também, nas ruelas vazias, nas neblinas contraditórias, nos telhados quebrados. Nas carteiras abarrotadas, nos correios atrasados. Ah! E nos papéis rasgados e tintos em mil e um pedaços do seu caderno antigo, também! Mas os perdia. Ou esquecia. Todos eles. Sem um final considerável. Eram apenas palavras aglomeradas. Sem sentido. É assim que se termina um conto? Sem acepção.”
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